
Um dos mais brilhantes pensadores da história, o húngaro-americano John von Neumann (1903-1957) enxergava lógica onde parecia haver caos. Ele acreditava poder explicar, com fórmulas, a motivação por trás de qualquer empreendimento humano – do pôquer à concorrência empresarial. Dessa obsessão nasceu a Teoria dos Jogos, ramo da matemática que serviu de base para o diretor José Padilha, com formação em física, expor, em Tropa de Elite, os fatores quase intransponíveis que corromperiam policiais cariocas. A teoria estuda diferentes estratégias escolhidas por jogadores, em um dado ambiente, para maximizar suas vantagens. Exemplo famoso da teoria é o "Dilema do Prisioneiro", que explora as escolhas à disposição de dois presos colocados em celas separadas e instados pela polícia a se denunciarem mutuamente. E qual é a relação disso tudo com as favelas cariocas? Diz Padilha: "Quais são as regras às quais um policial no Rio está subscrito? Ele recebe 400 dólares por mês, é mal treinado e colocado numa estrutura corrompida. E a gente pede que ele faça valer a lei em favelas com pessoas fortemente armadas, com grande risco de morrer durante um longo período de tempo. Diante desse cenário, quais são as decisões racionais que ele pode tomar? O filme nem julga nem endossa personagens como o Capitão Nascimento; ele procura mostrar as ações e decisões que estão ao alcance deles dentro do jogo do qual participam". O filme, portanto, usou a razão para expor os fatores que levam policiais a se corromper. Com isso, ajudou a tirar a roupagem ideológica que cerca o debate sobre a criminalidade no Brasil.
Críticas negativas como a da Variety também não o incomodam: "É coisa de quem não entendeu o filme". Na opinião de Padilha, seus autores talvez não entendam a própria história recente. "É um hábito ver os eventos sociais pela ótica marxista ou pela ótica liberal, como se não existissem outros parâmetros. Então, é muito bom que Tropa tenha sido exibido em Berlim. Foi lá que caiu o Muro. E foi lá também que essa dicotomia morreu."