quinta-feira, 24 de abril de 2008

Perto do coração selvagem



Sabe, a minha mãe não aprovou.
Viram logo que ele não era deste mundo.
Nossos vizinhos riam dele.
Era tão simplório que dava pena.
E a minha mãe dizia, é Stalker, está condenado à morte, é um eterno prisioneiro.
E os filhos, minha filha, lembra-se dos filhos dos Stalkers.
E eu não lhe respondia.
Eu também sabia que estava condenada.
Que era uma eterna prisioneira, e dos filhos...
Mas o que eu podia fazer?
Sabia que só junto dele me sentiria bem.
Sabia que muitas desgraças me esperavam.
Só que é melhor uma felicidade amarga do que uma vida apagada, triste.
Também é possível que tenha inventado tudo isto mais tarde.
Só que, quando chegou e disse, anda comigo!

Fui, e nunca lamentei tê-lo feito.
Nunca.
Vivi muita desgraça.
Tive muito medo e vergonha.
Mas nunca me arrependi, nem nunca invejei ninguém.
Foi o meu destino, a minha vida.

A gente é assim.
Mesmo sem as desgraças, a nossa vida não teria sido melhor.
Teria sido pior.
Porque, nesse caso, não haveria felicidade.
Nem esperança.

2 comentários:

::Soda Cáustica:: disse...

.. tua sensibilidade conforta a nós, passantes do teu blog.
adorei xará. De quem é?

Emmanuelle Kant disse...

É um trecho de "Stalker", do Tarkovsky.